segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Conectores e válvulas. Fazer ou não um upgrade?

Um cliente me mandou hoje as fotos dos conectores que comprou para fazer um upgrade nos terminais de seu V2-SE. Muito bem acabados, por sinal.
Além disto, me perguntou se valeria a pena trocar as válvulas que normalmente utilizo por outras.
Como estas são dúvidas que ouço com uma certa frequência, resolvi reproduzir abaixo, o mail da resposta que enviei.

Espero que ajude a todos os buscadores do áudio perfeito.

Divirtam-se!


"Olá B.

Visualmente os conectores são muito bonitos. Acho que valerá a pena fazer a troca do ponto de vista estético, sem dúvidas. Eu uso os conectores torneados com flash de Ouro. Se estes forem dourados (pelo processo galvânico) a camada é bem maior e mais resisitente às trocas frequentes de cabos e, se este for seu caso, aí valerá a pena.

Do ponto de vista elétrico não existe diferença mensurável no resultado final (para a faixa de áudio 10Hz a 20kHz) entre os materiais normalmente utilizados para as conexões. Lembre-se que o efeito Peltier-Seebeck sempre aparece na junção de dois metais diferentes quando submentidos à uma corrente elétrica. Portanto, quanto menos ligas e materiais uns sobre os outros, menores as chances de produzirmos ruídos (térmico, de contato, oxidações etc).

Nos meus equipamentos de uso particular, sigo as dicas do Mr. Bruce Rozenblit: RCAs e Binding-posts de latão (brass) com a maior bitola possível. Só isto.
É na bitola, na espessura dos metais e na pressão de contato que ganhamos alguma coisa, e não nas caríssimas ligas de Ródio, Platina e Ouro que, do ponto de vista elétrico são praticamente idênticas ao Estanho, Chumbo e Cobre que estão aos montes espalhados pelo circuito do seu equipamento logo atrás dos caros conectores de Ouro.

Isto me lembra outra situação. Um cliente precisava do JUNO para seu estúdio. Urgente.
Ele deveria entregar um trabalho e dependia do equipamento para a execução da terefa. De cara, contra a minha filosofia de trabalho, comecei a correr para entregar o equipamento. Perto do final me disse que queria Binding-posts com acabamento de ouro. Só que para importá-los levo mais um menos 15 dias quando vêm dos EUA e uns 35 dias quando vêm da Ásia. O equipamento já estava pronto e ele forçando a barra para a entrega.

Levei para ele com os conectores padrão. Ele não aceitou o equipamento e acabou comprando um estado sólido para fazer o serviço. Tudo por conta de uma conexão dourada.
Veja bem;
- Logo antes destes conectores que ele queria de liga "Pt-Rh-Au criogenizado e cristalizado no hiper-espaço", temos 4 kg do bom e velho cobre esmaltado* (e cheio de oxigênio...) no transformador de saída!
E isto é para qualquer amp valvulado com transformador de saída. Dos Conrad-Johnson(s) aos Audio Note(s).

Tudo é uma questão de ponderação.

Já as suas válvulas são SOVTEK. Das várias marcas que utilizo, as SOVTEK são as que têm as especificações mais próximas umas das outras. Do ponto de vista auditivo, você não notará uma diferença que compense investir US$80,00/válvula para comprar uma Müllard NOS, por exemplo, ou uma Telefunken Gold Pin, mais cara ainda.

Se quiser fazer a experiência, é sempre válido e, de repente, você pode achar um trio fabricado na Quarta-feira**, que pode render boas surpresas.

É isto.

Estou aqui para ajudá-lo no que você quiser fazer. É só avisar.

Grande abraço.

Atenciosamente,

* 4kg de cobre representa mais ou menos uns 200m de fio esmaltado e cheio de oxigênio e outros gases adsorvidos! Sim, adsorvidos aos montes.
** Na Segunda o peão está cansado da farra do Domingo. Na Terça, está começando a entrar no ritmo. Na Quarta não tem jeito: tem que trabalhar! A Quinta é véspera da Sexta, logo é dia de diminuir o ritmo. Sexta é Sexta, dia de festa. Portanto quando acho algo bem feito, digo que é um produto de Quarta-feira.




segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Dicas simples para os "Tube-heads"

Meus caros,

As válvulas eletrônicas, grosso-modo, são lâmpadas com alguns elementos lá dentro além do filamento que acende.
Ok.
É mais complexo que isto, mas para o que vou dizer à seguir, a analogia é válida 100%.

Um cliente me ligou preocupado com o comportamento das suas válvulas.
Passei algumas dicas que reproduzo abaixo e que servem para todos. Os "Tube-heads" mais experientes podem pular esta parte...
Vamos lá:
  1. Limpe suas válvulas regularmente para mantê-las sem poeira ou marcas de dedos e outros agentes químicos sobre o vidro. O gradiente térmico variando abruptamente em regiões adjacentes no vidro faz com que apareçam tensões superficiais capazes de trincá-las, como as lâmpadas halógenas dos faróis dos carros. Use pano limpo, seco e de algodão, de preferência.
  2. Nunca force a valvula inserida em seu soquete, lateralmente. Isto pode forçar os pinos da base e trincar o slug que se forma em torno dos pinos, provocando a entrada de ar no bulbo que deveria estar evacuado completamente (vácuo perfeito).
  3. Quando a válvula estiver quente, nunca toque a superfície do vidro sob pena de ocorrer o descrito em 1). Ao desligar seu equipamento, espere esfriar para manipulá-las.
  4. Quanto ao visual. Observe que os elementos internos devem estar alinhados e "no prumo" entre eles. Hastes tortas, grades faltando pedaços ou desalinhadas denotam excessos a que estas válvulas foram submentidas.
  5. Elementos internos soltos e fazendo barulho dentro do bulbo também são sinais de problemas, salvo raras exceções, onde o material não tem a ver com metal stripping ou elementos soltos após uso abusivo.
  6. O filamento deve se acender uniformemente e ficar de cor alaranjada para as válvulas de filamento à base de ligas de bário (a grande maioria das pequenas e médias válvulas). As válvulas de aquecimento direto (onde o filamento e o cátodo são o mesmo elemento, por exemplo as 2A3, 6B4G, 47, etc) podem apresentar pequenas variações da coloração ao longo do filamento visível. As grandes válvulas de filamento de tungstênio toriado se acendem como lâmpadas emitindo luz branca ou amarela intensa. Exemplos: 211, 811, 845, 4CX10000. O melhor ambiente para observar isto é uma sala escura, de preferência à noite. Em algumas válvulas pequenas só é possível observar o filamento olhando-se por cima do bulbo, onde é possível identificar o filamento brilhando dentro de um pequeno tubo metálico (cátodo), ou prestando-se muita atenção na base da válvula onde vemos o brilho refletido internamente.
  7. Algumas válvulas podem apresentar um brilho azulado pelo lado de dentro do bulbo. Isto é normal para as válvulas de feixe-dirigido (onde se forma uma mini-aurora-boreal azul - normal nas 6L6, EL34, KT88, etc). Para outras válvulas, onde isto denota uma falha, esta névoa azulada vem acompanhada de cliques e estalidos. Fique atento. Isto é sinal de grades problemas!
  8. Válvulas de potência, principalente os beam-tetrodes, pentodes e grandes triodos de transmissão, quando ficam com as estruturas internas avermelhadas, é sinal de que falta polarização correta de algum elemento: grade, screen, placa, etc. Isto também é problema, e dos grandes!
  9. Getter. A maioria das válvulas (não todas!) possuem o getter visível. Também é visível o espelhamento produzido por ele na queima, em uma das faces do bulbo. É uma camada escura e espelhada interna, como se fosse um chamuscada de alguma coisa pulverizada pelo lado de dentro. Sua cor deve ser escura (cinza, prata ou marrom) e uniforme. Se a válvula perde o seu vácuo, o getter começa a se tornar esbranquiçado. Com o passar do tempo torna-se uma película totalmente branca e que pode até começar a se desprender do vidro em pequenas lâminas e despencar para dentro da válvula.
  10. Aprenda a identificar os diversos elementos internos pela observação. Você com o tempo, aprenderá a chutar que válvula é (ou pelo menos ao quê se aplica, de maneira genérica) só de olhá-la. Saberá identificar uma retificadora, um triodo simples, um duplo, um pentodo, uma válvula multi-elementos (triodo-diodo, diodo-pentodo, etc), tetrodo, pentodo de raio dirigido (beam-pentode), damper, uma multi-grid, etc.
  11. Na dúvida se sua válvula está OK ou não, mande-me uma fotografia em boa resolução com a opção MACRO da sua câmera acionada. Faça a foto sob iluminação solar indireta, de forma que a fonte de luz não fique refletida no bulbo de vidro. Em última instância, embale a válvula e envie pelo Correio. Em nosso laboratório possuímos alguns Valve-Testers calibrados capazes de identificar 99,9% dos problemas, inclusive os invisíveis.
  12. E por último. As válvulas bem tratadas funcionam perfeitamente por décadas! na verdade, até quando mal-tratadas, algumas continuam a dar o seu melhor...por esta e por muitas outras é que eu amo as válvulas!
Abraços!
Luciano