sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Isolando os problemas num amplificador valvulado - parte 1

Tentarei neste post dar algumas dicas de como isolar problemas e resolvê-los, ou ao menos endereçá-los.

Vários amigos me perguntam sobre o que acontece com seus equipamentos e sistemas. Telefonemas fora de hora que me digno a responder em função do desespero do cara do outro lado da linha...
Dizem que estava tudo em ordem e de repente tudo mudou!

Vamos lá.
Em todo e qualquer sistema, seja ele elétrico, mecânico, hidráulico, pneumático, etc existem alguns tipos de falhas que são comuns, lógico que cada uma do seu jeito e com suas particularidades, mas que têm uma certa "equivalência" entre si.

Podemos dividir os problemas em duas grandes categorias:
1) Falhas crônicas (anunciadas, desgaste, fadiga, e afins). Geralmente estão relacionadas com projetos deficientes ou componentes mal construídos ou mal dimensionados para o sistema em questão.
2) Falhas repentinas. Geralmente ocasionadas por fatores externos ao seu sistema. Por exemplo: raios atmosféricos, quebras mecânicas por acidentes, variações súbitas no fornecimento das operadoras de utilidades (água, energia, gás, etc), entre outros.

O primeiro passo para a resolução de um problema é tentar isolar a sua causa-raiz.
Para isto é importante que não se introduzam variáveis demais durante os testes de modo que os efeitos não mascarem uns aos outros e o problema acabe sumindo sem deixar vestígios (e geralmente voltam ... a não ser que os sistema em questão seja um VW Fusca...onde os defeitos aparecem e somem sem deixar vestígios e sem deixar você na mão! Eu não sou fã do cara, aliás acho que ele exagerou e teve o que mereceu, mas quando ele encomendou o Fusca ao Ferdinand Porshe, ele deu uma dentro!)

O segundo passo é ter um bloco de notas para anotar o passo-a-passo dos testes e suas conclusões. Se não fizer isto, se verá repentindo coisas que já fez ou ignorando itens importantes nos testes.

O terceiro passo é não permitir que variáveis externas se somem ao defeito manifestado, para tanto certifique-se de usar as ferramentas corretas, cabos em ótimo estado, utilidades 100% (água, gás, energia, etc). Trabalhe em local iluminado e arejado. Se você for homem, peça para ninguém interromper ou ficar conversando contigo durante a operação. Se for mulher, ignore esta dica, vocês têm a capacidade de lidar com muitas variáveis ao mesmo tempo, nós não. Respeitem nossa limitação, ficando em silêncio.

Com todo o circo armado, coloque o objeto da sua insônia diante de você e analise (melhor com o esquema aberto, se tiver) se vale a pena, em função da complexidade do equipamento, fazer a checagem de pontos da entrada para a saída ou vice-versa.

Ajuda muito se você fizer um diagrama em blocos isolando as funções principais.
Por exemplo: um receiver.
O receiver, via de regra, tem os conectores de entrada, o circuito de chaveamento destas entradas, o pré com o controle de volume, os circuitos de efeitos (tone, bass, mid, loudness, equalizer, etc), geralmente um loop de saída/entrada neste ponto, os pré-drivers, os drivers e o estágio de potência. Para tudo isto mencionado anteriormente, existe uma fonte com múltiplas saídas. A fonte também pode ser desmembrada em blocos: circuitos AC de entrada e proteção (cabo de força, conector de força, varistores, fusíveis, chave seletora de tensão AC, etc), transformador(es), retificadores e finalmente os reguladores.

Uma vez desenhados estes blocos e como eles se relacionam (diagrama unifilar), você pode começar a testá-los individualmente, da forma como falei IN to OUT ou OUT to IN.
Para tanto, injete um sinal conhecido e vá acompanhando a evolução deste sinal em cada estágio. Um após o outro, checando o efeito dos controles sobre este sinal até achar o ponto errático.
Eu geralmente uso o esquema IN to OUT (para sistemas eletro-eletrônicos de áudio) e a primeira coisa que faço é checar a fonte de aliementação. Com tudo checado e OK, coloco as entradas em curto para garantir zero ruído (faço isto com um jogo de RCAs curto-circuitados).
Depois vou injetando um sinal conhecido e acompahnando o mesmo, circuito a dentro, até a saída.
Via de regra, quando seguimos estes passos, os defeitos são rapidamente identificados e endereçados (consertados ou ao menos podemos avisar para quem vai mexer no equipamento, quais as nossas conclusões. Isto sempre ajuda).


Mais algumas dicas "de ouro":
1) Um defeito intermitente acontece com qualquer fonte de sinal que usemos ou com qualquer sistema posterior. Se o defeito começar a depender da fonte de sinal ou do sistema posterior, comece a desconfiar do problema. Grandes são as chances do defeito estar na fonte de sinal e/ou no sistema posterior e não no objeto da sua insônia.
2) Leve o equipamento para outro ambiente (a casa de um amigo ou conhecido) e refaça os testes. Se o problema só acontece na sua residência, chame um exorcista ou encomende uma sessão de descarrego.
3) Problemas em programas de computador (que rodam nos microcontroladores e CPUs de equipamentos) não aparecem do nada. Ou já existiam, ou o programa mudou, de alguma forma.


Reflexões:
"Tudo quanto é projetista deveria trabalhar pelo menos uns 10 anos com manutenção antes de começar a projetar qualquer coisa!"
Luciano Peccerini Junior


Nos meus tempos de manutenção industrial na BOSCH, "pastei" muito com máquinas projetadas por dentistas...Nada contra a categoria, desde que se atenham a cuidar de dentes e bocas...
Quantas máquinas não tive que desmontar metade do arcabouço para alcançar um tiristor mal posicionado. Pior que trocar a lâmpada do farol dianteiro esquerdo do C3 da Citroën! Se ficou curioso, pergunte para quem tem um...

Para quem quiser se aprofundar no assunto, fica a dica de um curso que fiz lá pelos idos dos 90´s:

Pois é, meus caros, quando vocês pegam o telefone e me perguntam porque algo deu errado, os questionamentos que faço do outro lado têm um motivo real, são perguntas objetivas e estruturadas. Geralmente estou com um bloco de notas escrevendo tudo para que possa melhorar sempre e, quando me deparar com o mesmo defeito, tenha tudo esclarecido, passo-a-passo.


Grande abraço.

PS.: No próximo post um exemplo prático.


www.amplificadores.com.br

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