domingo, 31 de janeiro de 2010

DIY_001: Placa de montagem Vintage, estilo Fender ´50.

Meus caros amigos,
Conforme falei no post anterior, esta é a primeira de uma série de 3 posts DIY (Do It Yourself) que permitirá a vocês montarem o seu primeiro amplificador valvulado.
Na verdade, este primeiro guia passo-a-passo mostra como construir uma placa padrão de furos metalizados paralelos que suportará qualquer tipo de montagem eletrônica para equipamentos de áudio valvulados, sejam amplificadores Hi-Fi ou de instrumentos musicais ou o que mais sua imaginação permitir.
Os custos envolvidos são baixos e a diversão garantida.
Vamos lá!
O material necessário:
  1. Uma placa fenólica (fórmica usada para revestimentos de tampos de mesa e armários) com 0,5mm à 2 mm de espessura. Dica: peça o retalho em alguma marcenaria. Custo envolvido: R$0,00, se o marceneiro for seu amigo.
  2. Escala (régua) metálica de 400mm. A metálica é melhor pois o Scribber não danifica a régua quando passa por ela cortando o material.
  3. Ferramenta de corte. O ideal é usar de um "Scribber" da marca OLFA. Se não tiver, faça uma pequena faca com uma lâmina de serra quebrada. Use como referência a foto que mostra a ponta de corte do Scribber, mais abaixo.
  4. Caneta para retro-projetor tipo PILOT (usada também para marcar CDs/DVDs e para fazer circuitos impressos "na mão").
  5. Broca de aço rápido de 3mm e furadeira.
  6. Prensa manual nr.6 (veja texto abaixo). Pode ser adquirida na região da Rua do Gasômetro em SP, por R$30,00 em média.
  7. Ferramenta macho-fêmea para prensar "ilhós 70FL Latonado". Idem acima com custo aproximado de R$6,00.
  8. Ilhóses latonados tipo 70FL. O saco com 10.000 peças custa por volta de R$15,00. Com estes 10.000 ilhóses você construirá placas para você e seus amigos por toda uma vida...

É isto. Com tudo à mão, passemos para o "como fazer".

Material incial disposto sobre a bancada de trabalho. Note o formato da ponta de corte do Scribber da OLFA.

Com a escala metálica, corte as tiras na largura desejada. Faça um sulco com a ferramenta dos dois lados da placa coincidindo nas duas faces. Isto evitará rebarbas e rachaduras, e também servirá para garantir que o corte fique limpo e reto. Eu usei como referência a largura de um resistor de 10w, que seria o maior componente usado radialmente. Fiz a minha com 60mm porém 40 ou 50mm são suficientes para 90% dos casos.

Placas separadas e prontas para a marcação do guia de furos.

Deixei 5mm da borda e marquei uma linha paralela ao longo de toda a extensão, tanto no lado esquerdo quanto no lado direito. Depois a cada 10mm (1 cm), fiz uma pequena marca onde serão fixados os ilhóses.

Tudo marcado, passemos para a furação das placas.

Com a broca de 3mm, faça os furos nos pontos marcados. Cuidado que a fibra fenólica tende a ser puxada na direção da broca devido à sua textura plástica e dura. Segure e faça pressão próximo a região do furo para que o processo de furação não estrague o seu trabalho com rachaduras inconvenientes. Use sempre EPIs (óculos de proteção e protetor auricular. Com máquinas rotativas nunca use aventais e ou luvas!). Proteja-se. O que é para ser diversão, não pode se tornar um transtorno de final de semana por conta de um protetor auricular e um óculos que somados não chegam a R$10,00 de investimento! Tenha-os sempre à mão!

Furos feitos nas duas laterais usando as marcações como guias.

Pronto. Placa furada. Passemos à segunda fase: prensagem dos ilhóses.

Esta é a prensa manual. Uso uma número 6. Pode ser a rotativa, como a minha (que é do tipo ZERO manutenção) ou a de alavanca (que costuma precisar de um pouco mais de carinho no manuseio...) ou se não tiver como, use um pequeno martelo, em último caso. Não garanto a aparencia final, mas ao menos você terá um suporte para suas montagens, anyway...

Esta é a ferramenta que vai acoplada na prensa. Na esquerda a superior (móvel) e na direita a que fica na base, com o pino centralizador retrátil. Veja que na ferramenta superior está marcada a codificação do ilhós indicado (70) e na inferior o tamanho da prensa (6).

O saco de ilhóses que usarei por toda a eternidade...

Close no ilhós 70FL Latonado. Maleável, dúctil e fantasticamente aderente à solda 60-40 Sn-Pb, normalmente usada nos projetos eletrônicos.

Montagem das ferramentas na prensa. Na superior rosca, Na inferior, encaixe.

Ilhós em posição, colocado sobre a base inferior e contralizado pelo pino retetrátil.

Coloque a placa fenólica encaixada no ilhós que está posicionado na prensa e...

...mãos-à-obra. Force a alavanca da prensa até o final e aplique um pequeno sobre-torque para garantir que tudo está bem firme. Retire a placa e veja se o ilhós não se move. Se rodar no furo, reposicione sobre a ferramenta e aplique o torque novamente.
Repita a operação para todos os furos.

Veja como as bordas do ilhós foram dobradas para fora e ficaram firmemente presas à placa.

Eis a montagem como deve ficar.


Dependendo do tamanho da tira escolhida, faça todo o trabalho e depois vá cortando conforme sua necessidade.


Este é o resultado final. Voilà!
Agora você tem uma placa para suportar seus projetos bem ao estilo vintage dos Fender da dácada de 50.
Have fun!

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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Number ONE

Meus caros,
Quinze anos atrás montei um pequeno amplificador com as fatásticas 6BM8.
Num único envelope de vidro tipo T-12 e base de pinos mini-noval temos os dois elementos complementares necessários: um tríodo de alta performance (bem aos estilo das 12AX7) e um pentodo de saída (lembrando as 6AQ5), resumindo: a combinação perfeita para amplificadores compactos e de alta-fidelidade.
Era um amplificador single-ended operando em classe A de baixa potência e um som maravilhoso, respeitando-se suas limitações técnicas e a relação custo x benefício. Sabem como é, engenheiro recém-formado, sem o background paterno, anda sempre sem grana...
Usava tudo que eu tinha à mão naquela época. Para dizer a verdade, tive que desembolsar uns US$8,00 (em dinheiro de hoje) para comprar na Lider Transformadores lá na região da Rua Santa Ifigênia em SP, os dois trafos de saída. Eles ainda os produzem em série desde a década de 60!
Dobrei algumas chapas de alumínio para o chassis e uma placa de chapa perfurada para o fechamento.
Uma placa frontal com um buraco retangular e uma placa de vidro de 2mm colada com silicone completam a "cara" do Ampli.
Pronto. Tudo montado foi só ligar na tomada e deixar o Number ONE cantar.
Foram alguns anos de uso ininterruptos ligados à placa de som do meu computador naquela época.
Mudanças prá lá e prá cá, reformas, casas novas, apartamento, casa de novo, mudança de endereço, enfim...o Number ONE acabou desligado e encostado por todos estes anos e sofrendo com as viagens constantes.
Há duas semanas resolvi dar o carinho necessário para que ele voltasse à vida.
Num Domingo chuvoso, como têm sido todos os Domingos desde Dezembro´09 em SP, abri o Nr ONE e desmontei todo o interior. Tirei tudo. Fiação, soquetes, componentes, trafos, partes metálicas etc.
Então iniciei o processo da reconstrução:
  1. Lixa e pintura nova na parte metálica.
  2. Limpeza geral. Pó, umidade, restos de insetos, tudo retirado, limpo e seco.
  3. Testes nos componentes individuais. Nenhum sequer com problemas de fuga, umidade ou valor adulterado. Separei tudo numa caixa plástica.
  4. Soquetes plásticos Begli da década de 70...lixo. Perderam o efeito mola e o tratamento estanhado oxidou-se antes mesmo de eu inciar o Nr ONE 15 anos atrás...Coloquei dois novos soquetes fenólicos gringos.
  5. Montagem da circuiteira: o que fazer? Ponto a ponto? Placa-padrão de furos? PCB feita à mão? Fotocril e transparência?...Decidi!
...Há alguns meses o C. me trouxe uma réplica do Fender DeLuxe que ele estava construindo (update: construiu! Vejam em http://bit.ly/bgg0HP) para eu dar alguns palpites, foi quando ele comentou que iria fazer a montagem em placa fenólica com ilhós. Isso mesmo. Se era para ser uma réplica, que seja como o Mr. Fender fez 50 anos atrás!
Liguei para o C. e pedi alguns ilhóses e a ferramenta para prensá-los. Já tinha a prensa manual e uma lâmina de fórmica cortada. Era só furar e prensar os ilhóses.
Feito.
Redesenhei o circuito para a montagem em placa de furos paralelos (como se fazia na década de 50, antes das PCBs) e montei tudo de acordo com o diagrama.
Foi só ligar na tomada e dar vida novamente ao Number ONE.


Está lá, firme e forte, ligado à minha placa de som no servidor do meu escritório. Enquanto escrevo estas linhas ele canta a "trilha sonora original da temporada 4 do seriado de ficção Battlestar Galactica" (BSG75, para os íntimos)*...





Em tempo,



Atendendo aos pedidos de alguns amigos e clientes, postarei um passo-a-passo DIY para que vocês possam construir uma réplica do Number ONE.

No próximo post do blog, explicarei como fazer as placas fenólicas (Formica) com ilhós de latão e em seguida publicarei: a) o circuito do Number ONE, b) as fontes de alimentação com reguladores de AT e Filamento c) o diagrama bifilar para a montagem que permitirá a qualquer pessoa, mesmo sem conhecer profundamente (ou nada mesmo) de eletrônica, montar o Nr 1.
Não existe nada mais gratificante do que juntar um punhado de componentes eletrônicos e ver aquilo tudo junto fazendo algo interessante por si só!
Essa é a magia de projetar e construir amplificadores que me deixa mais feliz e satisfeito a cada dia!
Grande abraço e até a próxima.
...
* Os Trekkies, os Bab-5s, os SGs e os Jedis** que me desculpem mas, com todo o respeito, BSG está anos-luz à frente de tudo o que já foi feito em termos de Sci-Fi para TV. Quem não viu, não sabe o que perdeu!
** Star Trek, Babylon-5, Star Gate e Star Wars.
Yamato é Yamato. Nem entra no ranking!
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